........................a tenda, à entrada.Era pela tenda (oficina de marceneiro do meu avô materno) que entravamos e subíamos uma pequena alameda ladeada de faias e cameleiras. Lá ao fundo bordejada por crisântemos, sécias, boninas e amores perfeitos, uma beleza de canteiro, quase jardim, eis que se nos deparava tão galantinha, tão branquinha, tão cuidada, a CASA das TIAS.
Aquele grande sicómoro à entrada tinha sido plantado no dia em que eu nasci, ali perto, na casa do outro avô.
Na cozinha, grande, com as traves em madeira à vista, respirava-se o cheiro das maçãs guardadas. Na amassaria preparavam-se as refeições que, no início eram cozinhadas em fogão de lenha. No forno, cozia-se o pão de milho e assava-se carne ou feijão. E naquela cozinha, ah, o que eu adorava à noite jogar à sueca à luz da lamparina a petróleo, ouvir as cagarras no seu crucitar lamentoso e terrível para o nosso dormir...
E foi ao som das cagarras que no final dos anos 50, nos juntavamos, nas noites estreladas, no balcão da sala para vermos... o Sputnik passar!
As Tias morreram há...tantos anos...O tenor austríaco Kurt Spanier quis comprá-la, mas estava apalavrada...
O Tempo, a inexorabilidade do Tempo marcou esta casa, poder-se-á dizer, abandonada. Há dois anos quis emprestá-la a um primo, em princípio de "vida a dois", apenas com a condição de a manter habitável. Não mo permitiram.
Esta casa outrora tão galantinha, não aguentou estas chuvas intermináveis e... foi-se. Agora é uma ruína.
É mais uma morte na minha vida...Apenas vos mostro esta tristeza...