“Os olhos amam primeiro
o coração vê depois”
Daniel de Sá
“Porque me olhas assim
No vago do teu olhar
Que é tão grande como o mar
Tão forte como tu em mim”
João Carlos Fraga
Porque me olhas assim? Ah, quanta esperança no brilho do teu olhar...
Porque me olhas assim? Alcandorada no magma da rocha da tua força, latindo um vago sorriso...
Porque me olhas assim? Alquebrada e estóica até ao fim, desconfiadamente agarrando o que resta, o que talvez ainda reste... do conteúdo da tua alegria...
Porque me olhas assim? No sereno do teu olhar, na sobrevivência a tanto sofrimento, no aconchego da tua resignação, abençoa-me!
Porque me olhas assim? Acochada no avaro da tua descoberta, nada queres partilhar.
Porque me olhas assim? Na singeleza da tua nudez apenas te resguardas... olha que a VIDA não é assim!
Porque me olhas assim? Olhos espúrios que me queimam, que afugentam o meu olhar. Não te quero!
Porque me olhas assim? Insidiosamente penetras-me, olhas-me por dentro até a minha alma se derramar em ondas de mar branco...
Porque olhas assim? Já nem olhas, já não vês, apenas desabaste os teus sentidos pelos corredores do universo...e ainda não voltaste!
Porque me olhas assim? O teu sorriso magmático, enigmático, também prazeiroso, também redondo, traz-nos a nostalgia dos TEMPOS sem TEMPO. Sustém-te!
Porque me olhas assim? Melancolia eterna ou efémera?
Porque me olhas assim? ...talvez breve...talvez viajante esse teu olhar...
Porque olhas assim? O que viste, que te perturba?
Porque me olhas assim, com esse ar azul de olho longínquo e olhar pausado e pousado?
Porque me olhas assim, bébé, com esse teu grande olho tão redondo?
Porque me olhas assim? Serenamente navegas ao sabor de carreiras de sonhos emoldurados de canseiras...e és tu!
Ah, já não olhas! O passado levou-te o presente...
Porque me olhas assim? O TEMPO virá.
Porque me olhas assim? ...e o TEMPO veio...
Não me olhes assim!!!
Não me olhes!
Não quero que me olhes assim.
Porque me olhas? Assim...não me olhes
Porque me olhas assim?
Porque me olhas? Assim
Assim, sim!
...olha-me...assim...
Margarida (de Bem) Madruga
Horta, Primavera de 2008